Comocoxico

Local para contar estórias, causos, mostrar retratos, recitar poesias, encontrar e reencontrar os filhos e amigos de Caculé.
Participem!
contatos: comocoxico@gmail.com

domingo, 24 de maio de 2009

Uma pausa para agradecimentos

Passado dois meses que este Comocoxico começou a encher, e já acessado mais de mil vezes, por quase 400 conterrâneos e amigos, agradeço os elogios e incentivos recebidos, além das contribuições e sugestões enviadas.
Embora sem águas novas nos últimos dias, vários contatos foram mantidos e novidades começaram a ser divulgadas (Nei Costa, Zé de Dila, Eustorgio Cavalacanti, Eny Meireles, Tosa Cavalcanti, Rubem Ivo, entre outros).
Renovo o convite a todos que enviem material da nossa cidade, que segundo Prof. Deba, "tem realmente bonita história e muito assunto verdadeiramente inspirador".
E meu caro professor, suas palavras me emocionaram muito - meu obrigado especial! Todos aguardam aqui no Comocoxico, suas tantas outras palavras, que registram nossa gente com grande sensibilidade.

E.T. Respondendo aos amigos e incentivadores, Marcus Gusmão e Nilson Galvão, catingueiros de Conquista e Brumado, Comocoxico é uma grande e inspiradora barragem, construída nos anos 40, para abastecer e embelezar a região.

sábado, 16 de maio de 2009

Lia Lora


LIA LORA (*)

Quero aqui lembrar a figura de uma pessoa ímpar de nossa Caculé, pela sua beleza, pelo seu comportamento sui generes, que fez e fará parte em todos os tempos da historia da nossa cidade: LIA LORA.
Nunca ninguém soube seu nome verdadeiro, nem sua idade.
Sendo nossa vizinha, a conheci desde criança, com uma característica marcante - a vaidade. Vaidade essa que ela mantém até os dias atuais, quando com esmero, cuida das suas madeixas sempre loiras e a eterna pastinha impecável; olhos e sobrancelhas sempre bem delineados com cryon; uma pele de bebê mais suavizada com pó compacto, sem falar de uma pinta em seu rosto realçada como o mesmo lápis.
Estando na janela, não dispensava o uso de um lenço de seda colorido para compor seu visual.
Nunca abriu mão dos bobies, para avolumar sua cabeleira, e realçar ainda mais os seus lindos olhos azuis.
Bonita, traços finos, visíveis ainda nos dias atuais.
Dentro de uma saia rodada cheia de anáguas, vez por outra, ela nos presenteava com um desfile pela Av Dr. Antonio Muniz e adjacências, por alguma razão especial. Toda garbosa, sorridente, preocupada em parecer impecável aos olhos de quem a assistia passar. Ajustava a cada segundo, aqui e acolá, algum detalhe da indumentária que lhe incomodasse. Não podia fazer feio, afinal era na época a moça mais cobiçada pelos rapazes, particularmente pelos viajantes, que por aqui passavam, suprindo o comércio local, muito comuns na época.
Levava uma vida recatada, sem muitos amigos, mas amiga de todos. Debruçada em sua janela, hábito que ainda persiste, assiste a vida passar, e se mantém bem informada das novidades mais frescas da cidade.
A única festa que no passado lhe tirava do casulo, era o carnaval; sua preferida e única. Nos carnavais, ela se destacava com sua brilhante presença. Se produzia com esmero, e muita animação, rumo ao Clube Social, para se esbaldar ao som das marchinhas ecoadas pelas bandinhas de fanfarra, (Ó jardineira por que está tão triste, mais o que foi que te aconteceu....) soltando seus gritinhos de intensa euforia.
Muito tempo depois, Lia restringiu suas saídas. Sempre acompanhada por alguém de sua confiança, ela passou a sair apenas pra ir ao dentista ou por ocasião das eleições, para cumprir o seu dever cívico. Hoje, Lia, sozinha, fato que parece não aborrecê-la, continua "bem informada", conversando com transeuntes que sempre lhe vêem trazendo novidades.
Fiel aos seus hábitos e costumes, continua na janela, assistindo a vida passar.
Embalada pelos seus sonhos e fantasias distribuindo os mesmos sorrisos, ela continua ali, impecável mas totalmente alheia as novas tecnologias e modernidades. Lia embora de família simples, tem porte de princesa, e como princesa aqui lhe rendo a minha homenagem cheia de carinho e respeito.

(*) Texto de Neide Aquino, mãe, e foto de Fabíola, filha.

Deufunto de Chumbo

DEUFUNTO DE CHUMBO (*)

Damião, do Alto da Cambambosa, era vaqueiro valente, forte e duro no trabaio.
Peuto do Alecrim, Sirvina, moça dereitcha, era uma fromusura só.
Damião já vevia cansado das rapariga do lugar. Toda semana passava o rodízio. E ninguma cobrava. Ele não sabia se era por medo ou proque elas gostava da sua taca.
Sirvina temia ficar no barricão. De oio todo home tava, ma, frente da belezura fartava corage. Só de oiar os home tremia as perna, as mão, a fala sumia, o coração subia.
Cum Damião num teve lero-lero. Bateu os oio na portranca e falô - Com tu vô casar.
Ela se sustô. Se picô num piscar d´oio. Mas, inda viu a cara de pedra, o olhar de aguíia e um bigodão de cauvão. Esta foi sua perdição. Sempre sonhava cum um bigodão.
Dois mês adispois era Sirvina na cosinha, na caminha, na hortinha, na caminha, na lagoinha, na caminha. Parecia uma pombinha. Num enxertô, mas, cuma treinô!
Ele tomém era marvado. Os boi era no ferrão, estropiava rês, descaderava bode e oveia.
Cuma ela era casada, num posso falar: a cara de louça, a boca um jambo. E o oio? Bolona de gude leitosa cum uma jabuticaba. Nem digo que as peuna era roliça, a cintura era de pilão e que a anca botava banca. O resto? A premera preferência é míia.
Bateu ciumeira no Damião. Pispiô a judiar a muié. Era palavrão pra lá, safanão pra cá, berros pra lá, leros pra cá, surra de currião, muitcha humiação.
Pra tanta malvação, uma vingação. Ele foi sartar uma ceuca, inscorregô. Na saída, lá dele, entrô uma estaca inté a boca do istombo. Ficô enrabado, entalado, envarado.
Uns parente, uns conhecido e uns inxerido leuvô o caixão. No rio, os home c´água nas canela, o carrego empacô. O deufunto pesô demais. Os home gritô - Acode gente.
Uma dúzia de home num guentô. Veio um carro-de-boi. Moço, cundo o caixão arriô na mesa, as roda fundô, os boi joeiô, o povo pasmô. Uns gritô - Os pecado virô chumbo.
A viúva que vinha na rabeira, carma e arliviada, vendo a frição, cramou - Sá Inhora do Menino Jisus apiede. Inhorinha, já perdoei ele.
Tudo vortô, inté mió. O caixão tinha asa, virô argodão. Pareceu inté que a terra queria o marvado. Cuma pode? Fartô terra do buraco discavado. Teve que pegar de fora. E os falatório começô já na vorta do sumitério:
- Aqui faz, aqui paga.
- O Tinhoso inda vai querer muitcho troco.
- Diantô arguma coisa. Deixô prosoto a viúva boa.
Foi pra Sumpalo. Ingora, eu inda sonho pecano cum ela. É um pirão de lamber os beiço!

(*) Minicauso, baseado no imaginário e um pouco no linguajar da nossa terra. Escrito por Rubem Ivo e já publicado em versos (Gió de Filó) no livro ANDANÇAS.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

A Seta

Em outubro de 56, foi lançado A Seta, "um jornal independente, para um povo progressista", que buscava narrar os acontecimentos da cidade. Circulou pouco, apenas quatro edições.
Abaixo a edição nº 01. Clicando em cada imagem, iniciamos uma viagem onde cada detalhe será motivo de grandes lembranças.


quinta-feira, 7 de maio de 2009

A primeira chegada do trem


Uma foto histórica enviada por Rubem Ivo, com o seguinte texto: "A primeira chegada do trem à Caculé. Vê-se que a ponte ainda não tinha sido construída e nem a estação(*). Havia um caminho que se tornou a Av. Eng. Artur Castilho."

(*) inaugurada em 1º de maio de 1949, segundo o livro Caculé de Miguelzinho, escrito por José Alves Fróis, em 1967.

A Praça do Hotel de Dona Lia



As fotos foram tiradas do telhado dos Correios na década de 60.
O Rio do Antônio largo e com areia nas margens, o hotel de D. Lia, a melhor comida do interior baiano, segundo os viajantes e a bomba de gasolina, o posto zero da cidade.

sábado, 2 de maio de 2009

SERAFIM, por Dicinha Ferraz

SERAFIM (*)
Não naufragou no mar de sua solidão.
Sobreviveu à dor da separação dos seus e buscou nas ruas de sua cidade, razões para viver. Conquistou amigos com seu jeito humilde e servidor; assim, conheceu e se fez conhecido dos caculeenses. Inteligentemente, buscava métodos que só a sabedoria de um filósofo é capaz de criar para integrar-se ao meio em que vivia.
Na pescaria fez companheiros; na música, conheceu a alegria; na bebida fez parceiros; nos “causos” que sua mente fantasiosa criava, fez expectadores e ouvintes. Um perfeito “Mambembe”, de esquina em esquina, contava aqueles fatos que só ele viveu, dentro de um mundo tão amplo e tão seu, onde efervesciam seus sonhos e onde guardava de forma tão íntima, talvez as suas dores, quem sabe seus amores...
Serafim viajava em uma estrela mágica e, etéreo, imprimia ações aos seres que não as possuíam, criava mitos e personagens que povoavam sua mente, acompanhando-o em aventuras onde Ele era o herói; assim, dava vozes aos animais, levantava os mortos, criava dinâmicas que só quem o ouvia contar com tal cunho de veracidade seria capaz de conceber e com ele viajar por um mundo tão irreal quanto atraente.
Para as crianças, um cumprimento alegre e motivador, ainda que brotando de uma articulação dentária disforme e feia, uma barba descuidada. Para os adultos exprimia um respeitoso “FALA,GENTE!” quando uma atitude lhe despertava malícia, ou diante de algo pouco esclarecido, exclamava, de forma bem pessoal: “ ÓÓÓÓIA !”
Pobre Serafim: um sorriso permanente, uma mente criativa, um Dom Quixote, para quem sonhar era preciso...
Gabava-se, em sua deliciosa fantasia, de ser conhecido no mundo inteiro. Contava ele, que, certa vez, um viajante quisera pôr à prova essa sua popularidade e convidou-o a fazer-lhe companhia em uma viagem por outras cidades. Por onde passavam, todos o aclamavam com carinho: “Ei, Serafim!” Nos limites da Bahia, nos estados vizinhos, em outras regiões mais distantes, ninguém desconhecia o famoso Serafim. Sua figura simples, carinhosa e amiga, invadia o território brasileiro e tornou-se um eco, o chamamento “OI, SERAFA!”
Encabulado com tamanha popularidade, eis que o viajante decide que viajariam pela Europa. E lá estavam os dois na Itália – Roma, mais precisamente. Em meio a tanta beleza, os dois se distanciam e perdem-se na multidão. O viajante enlouquece de preocupação. Dirige-se, então à Catedral Basílica de São Pedro para suplicar proteção ao Santo na busca do amigo desaparecido. Rezou, pediu, suplicou enquanto assistia à belíssima missa concelebrada. Chamou-lhe a atenção um celebrante alto, alvo, bem paramentado que presidia a celebração. Perguntou então a uma pessoa ao seu lado, quem era aquele celebrante. O italiano, calmamente, respondeu-lhe: o do bonezinho vermelho, eu não conheço; mas aquele escurinho que está lá ao lado dele, é Serafim.
E assim viveu nosso conterrâneo amigo. Vagando e sonhando entre caçadas e pescarias nos arredores da cidade, filosofando até onde pudesse levar-lhe sua mente etérea e pura.
Sucumbiu, vítima da violência e da crueldade humana.
Esteja em paz, Serafim! Continue contando seus “causos” aos anjinhos que, no céu, certamente o cercarão, para ouvi-lo em seus sadios devaneios e criações singulares e encantadoras
Saudades!!

(*) Dircinha esrcreveu este texto quando soube que Serafim foi encontrado morto na lagoa de Caculé, em 12 de julho de 2004.

Concluintes de 1958 do CENF



Em dezembro de 1958, o Colégio Estadual Noberto Fernandes, formava sua primeira turma de licenciados, diplomando 46 alunos. VespasianoFilho, foi o paraninfo daquela turma e assim discursou: "Meus amigos, cumpristes hoje vitoriosa etapa, talvez a mais escarpada, no entanto, a vossa formação ainda não se completou. Benévola alvorada de esperanças vos acena para reencetardes a luta nos cursos pedagógicos, científicos, técnicos e universitários, empregando os melhores de vossos esforços para a conquista de louros mais elevados e expressivos. Traçais, desde já, o necessário planejamento para continuardes na caminhada, com firmeza inabalável em busca de novos triunfos."

Para ampliar, clique na imagem!