Toda região sertaneja baiana, no início da década de 1950, foi castigada por tão longa e inclemente estiagem, que provocou um surto epidêmico, causando muitos sofrimentos e sérias preocupações não só à população carente como a fazendeiros, agricultores e comerciantes.
Sensível aos reclamos e apelos das autoridades municipais, o governador Régis Pacheco, ordenou a vinda a Caculé, de uma equipe de profissionais da área de saúde, composta de dois médicos e três enfermeiras para a prestação de assistência aos desprovidos de recursos e implementação de outras ações de emergência.
A equipe hospedou-se no Hotel Lia, o mais conceituado e famoso na época, de propriedade de Dona Maria José Nascimento, carinhosamente Lia do Hotel, uma criatura de prendas domésticas e de boas maneiras. Lia de fala mansa e simpática, recebia seus clientes com urbanidade e atenção.
Dada por concluída a sua missão, ao longo de duas semanas, a equipe, diga-se de passagem competente, realizou com zelo e espírito solidário, um trabalho tão útil quão importante, de socorro e educação sanitária. E, ao despedir-se da cidade, certamente em retribuição ao tratamento recebido e a boa acolhida que teve da família caculeense, a médica que chefiou o prestativo conjunto, o fez através dos Serviços de Alto Falantes da PRVC, cujo ponto de rádio era dirigido pelo competente e impecável locutor Aizete Gonçalves Fauaze. Pronunciando comovidas palavras de agradecimento à comunidade, no ensejo, realçou que a D. Lia, além de cuidadosa e diligente hoteleira, era uma senhora, na realidade possuidora de sentimentos nobres e notáveis predicados sociais e humanos.
Já que fiz referência a Gonçalves, não posso olvidar o seu ilustre mano Nacim, pois ambos foram agentes responsáveis pelo lançamento de bons filmes, que não seriam exibidos em Caculé não fossem os esforços desses dois pioneiros, inteligentes programadores que lutaram pela escolha e qualidade dos filmes exibidos.
Aqueles que tiveram a ventura de conviver coma fase de ouro do Cine-Teatro Engenheiro Dórea, devem se lembrar da exibição regular de filmes, que proporcionaram grandes momentos de recreação e lazer aos seus premiados frequentadores, graças à atuação desses verdadeiros “irmãos coragem”.
Movimentados foram também os interessantes “Programas de Auditório”, realizados na mesma casa de espetáculos, aos domingos e feriados, animados e desenvolvidos por Eustórgio Cavalcanti e outros auxiliares, com a participação efetiva de amadores e calouros, sempre dispostos a enfrentar o temível microfone.
Recordo de jovem calouro, com seu vozeirão, cantando: “Ó sol, tu que és o rei dos astros, tu que iluminas o mar e a montanha”, sacudindo a platéia entusiasmada e delirante.
(*) Crônica de Vespasiano Filho, publicado em seu livro "RECORDOS", editado em 2000, pós mortem. Se vivo completaria 97 anos, no último domingo, 5.
3 comentários:
A compensação de estar um pouco mais velho é a de ter conhecido figuras tão ilustres, personagens desta crônica, como Dr. Vespa; Dr. Eustórgio Cavalcanti, graças a Deus ainda forte e presente; D. Lia de Bento (do Hotel); o Sr. Gonçalves, pai do meu grande amigo Sérgio Fauaze (contrabaixista do The Cat's). Gonçalves, com o qual tomei caixas de injeção para tratamento de bronquite asmática, tendo meus pais dado a ele, para me dar após o tratamento, como forma de garantir que eu não fugisse do sofrimento, uma mochila (maria fumaça) de presente. E, os filmes e festivais do Cine Teatro Engº Dórea? Acrescento ainda a Boate "Love Story", que saudade...
Pois é, por tudo isto e muito mais, "Caculé seria um sonho se não fosse real..."
Beijos,
Betão Pereira
Registro alegria e saudade, pois sou filha de Nacim Fauaze e sobrinha, portanto, De Aizete. Dessas duas pessoas bem especiais, somente coisas belas e boas teria a dizer. Obrigada por referir-se a meu tio e meu pai com tanto carinho.
Registro alegria e saudade, pois sou filha de Nacim Fauaze e sobrinha, portanto, De Aizete. Dessas duas pessoas bem especiais, somente coisas belas e boas teria a dizer. Obrigada por referir-se a meu tio e meu pai com tanto carinho.
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